quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Incontáveis meios do fracasso


Feliz aniversário

Chegada a véspera do dia em que comemoro o meu nascimento. Desde pequenino eu passava as madrugadas do aniversário em claro,somente planejando os diversos jeitos de comemorar o presente que receberia.
Todo ano eu perguntava ao meu pai se ganharia um tão cobiçado autorama no meu próximo aniversário. Obtinha a mesma resposta :
- Se for um menino comportado, papai pensa em comprá-lo para você. - O pai,com um nó na garganta, contornava a situação.
É claro que eu sabia que dependia da situação financeira do meu pai e o papo de comportamento era apenas uma distração para não dar muito trabalho durante o ano.
Na manhã de aniversário, despertei sozinho devido à ânsia que me pressionava. Fui direto ao quarto dos meus pais que há pouco tinham despertado também.Entrei com uma feição extremamente alegre,afobado e louco pelo presente.
- Feliz aniversário filhote! Papai está tão orgulhoso de você! Está virando um homem que daqui a pouco até ultrapassa a minha altura.
A minha mãe, na fila para me encher de beijos, segurava um embrulho atrás das costas. E logo veio o desânimo: eu já sabia pelo tamanho do pacote que não seria o meu desejado autorama,mas continuei estampando um sorriso no rosto.
- Meu homenzinho lindo da mamãe! Vem aqui me dar um abraço. - fiquei amassado de tantos abraços.
- Esse é o presente do papai e da mamãe.Abre agora! – papai disse.
No momento,suscitei a possibilidade de que talvez tivesse de forçar uma surpresa,então continuei sorrindo.
- Demais! É o Capitão Caveira dos guerreiros do universo!
Eu ganhara um boneco de um personagem que nem era meu preferido do grupo dos guerreiros, mas não queria decepcioná-los quanto ao presente.Dei um beijo nos pais,agradeci e segui para o meu quarto.
Logo entrando no quarto fechei a porta e joguei o boneco no baú de brinquedos.Não foi o brinquedo que satisfaria o meu anseio de brincar.Voltei à cama,fechei os olhos voluntariamente pedindo para dormir e sonhar com aquele autorama que me levava ao delírio.

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A dimensão do fracasso

Abri os olhos com lentidão. A suavidade daquela amanhã de novembro não me inspirava a despertar completamente. Estava frio, o abochornado do quarto estava tão convidativo que eu relutava em sequer abrir os olhos.
Desacordado, provavelmente eu ainda não havia percebido que era o meu aniversário.Diferente das manhãs de infância, eu não desejava mais um autorama para brincar. Tudo o que eu queria era uma mulher em especial, dividindo a mesma cama. Se a tivesse faria questão em acordar todo dia mais cedo somente para observá-la dormindo, zelando a virgindade do seu sono.
Seguindo o bocejo,espreguicei logo me dando conta de que estava sozinho.Tomei banho e um rápido café da manhã, continuando pela correnteza da vida.

Herdei da vida o único presente que empecilha a minha felicidade:não a tristeza, mas sim o tempo que me impede de morrer logo, em paz.