quinta-feira, 29 de abril de 2010

Relatos impessoais - Pt.II


A gula de quem não come, mas ama

É sempre excessiva,
por culpa dos sentimentos.
Até quando pensar em parar,
dará conta que não está satisfeito.

A palavra "vício", coitada,
é pessimamente atribuída,
porém,se mal alimentado,
será mesmo um vício sem saída.

Vomitar as palavras
vindas da boca do estômago,
se atingem qualquer pessoa
por que só não atingem o seu âmago?

Pode exagerar à vontade,
ultrapassar até a morbidez da obesidade.
Se abusar desse doce te deixa aliviado,
ostente em admitir ser um glutão apaixonado.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Relatos impessoais - Pt.I


Pronome invisível

Ouvir o que fala,
sentir o que cheire,
tocar a presença,
sequer que tateie.

Seguir cada passo,
a qualquer passeio.
Revirar sentimentos
e prever os anseios.

Inspirar a fumaça,
esconder sombra adentro.
Sussurrar consequências,
justificar um tormento.

Amar é o doce,
possuir o amargo.
A consciência é ciente,
existe só por desencargo.




ps.: pelo menos agora é visível.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Amor circense


Por que admirar alguém que não te admira?
É provavelmente a dúvida que perdura sobre a humanidade. Fazer das tripas coração tentando impressionar quem não pode te ver, ou pior, quem não faz questão em ver.
- Te dou a oportunidade de ser a atração principal do meu espetáculo, e você me retribui assim?! Rindo da minha cara? - o palhaço deixou aos risos a minha barraca de onde fazia o escritório.
- Será que sou invisível? Ou beiro ao desprezível por não chamar-lhe a atenção? - pensei intrigada.
Os meus tantos elogios a ele sobre sua magnífica apresentação naquela noite não haviam funcionado, e acabei sendo falha na tentativa de conquistá-lo.Será que ele ria da minha cara por eu amá-lo?
Afinal, por que fui amar um palhaço?
O pior é que eu não tinha como ou por que demitir aquele palhaço: ele era fabuloso,fantástico,majestoso e o centro total das atenções.
- Por que ele era assim tão perfeito? - eu resmungava pelos cantos,contestando o meu amor por um palhaço circense.
E sinceramente? Naquela hora, mesmo sabendo que é maldade desejar o mal de outras pessoas, eu gostaria que ele tivesse o status da repugnante mulher barbada, a qual todo mundo só pagava por matar a curiosidade de ver uma pessoa tão incomum. Fiquei tão indignada que imaginei as bolas de fogo dos meus cuspidores atingindo-o em cheio.
Bobagem, era só mais uma contradição de meus sentimentos: eu amava aquele artista e não desejava nada de ruim para ele,muito pelo contrário,desejava o melhor possível.
O palhaço me impressionava com o vigor e orgulho que tinha de sua vida, ao contrário de mim, que às vezes me pegava numa depressão tão profunda por exercer uma profissão tão simples(dona de circo). Ele era satisfeito pelo que fazia, não exigia nada mais de sua vida, somente gostava e precisava ser uma atração. Sobretudo, somente eu sabia da vida que atormentava-lhe por trás daquelas sorridentes e falsas maquiagens.Eu não o reconheceria pelo seu passado de maus exemplos, e também aposto que não deixaria ninguém admirado. Mas ele me fez admirá-lo.EU o amava,e não tinha de negar.
Parece palhaçada... mas às vezes suponho que literalmente eu esteja mais para palhaço do que ele.
A resposta é não! Antes que perguntem se outrora virarei ou não um palhaço. Garanto que minha personalidade já está mais equilibrada do que os pés do equilibrista sob a corda bamba.
Finalizo então por hoje este espetáculo circense, rodeado de horrores e amores,agradecendo ao público pelo meu sustento,porém,que nem sabe da minha existência. Mas acabo agradecendo principalmente por ter este palhaço na minha vida. Motivo a qual estampo um sorriso permanente somente em saber da sua existência ao meu lado,e que mesmo rindo da minha cara diariamente, não demonstrando com clareza sequer algum sentimento de desprezo, me dá esperanças de um futuro melhor nesse circo de qual sobrevivo. Sempre atuando como atração principal do meu espetáculo: tanto no circo quanto no amor.

- Nosso amor... - sussurrei só.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Ideologia de nada


Eu estava procurando-lhe afim de te observar a noite toda mas estava bem no seu ponto cego, num canto que nem mesmo deus poderia ver ou ajudar. Foi então que fui até o balcão e pedi um copo de cachaça. Eu sabia que você estava naquele canto, tinha certeza. Ao meio de tanta gente e de uma música alta, conseguia fazer com que todos congelassem e prestasse atenção somente à você, viva e dançando somente para mim.
Você era tão linda e estava tão feliz que a emoção vibrava no meu peito.Sentindo uma forte adrenalina, eu virava os goles da cachaça abruptamente e cada vez mais me sentia encorajado a falar com você. O meu lado efusivo (consequência alcoólica) eu ainda não conhecia, mas percebi que involuntariamente estava chegando perto de você. A minha adrenalina era tão alta que nem preocupado estava em me disfarçar à multidão.De repente
- Oi, o que faz aqui? - indagou ela.
Naquele momento já havia tido uma epifania amorosa por ver e ouví-la.
- Não sei. - respondi mais perdido que cego em tiroteio.
A conversa começou a se soltar mas ainda soava como uma conversa artificial,improdutiva e obrigatória, como se só falasse comigo para não ignorar totalmente a minha existência.
Ora ou outra interrompidos por algum conhecido dela, a conversa recomeçava da estaca zero e ela demonstrava constante desinteresse. Até a hora que ela inventou algumas desculpas e se retirou com os amigos. Foi o golpe final.Ali estava eu, derrotado pelo amor, isolado em reclusão sem direito a condicional mesmo entre centenas de pessoas. Não aguentava assistir a felicidade das pessoas (inclusive a dela) dançando, sorrindo e aproveitando a noite, e somente eu, sozinho, com um copo vazio entre as mãos,triste e dependente de alguém.
Eu não tinha você, como é que poderia ser feliz?
Paguei a conta no ato, peguei minhas coisas e fui embora.Já ao lado de fora te encontro novamente: ploft!
Toda a esperança desse coração nobre e grande ascendeu novamente:
- Já vai? - disse a garota.
Foi eterno enquanto não respondia, pensando que eu não fazia diferença alguma na noite dela. Ela acendeu um cigarro que odiava-a por fumar(mas que mesmo odiando o cheiro, adorava quando vinha daquela boca maravilhosa).
- Huuum, acho que sim, eu não estou na minha melhor condição.
E quando achei que ouviria a maior das redenções pedindo para que eu não fosse embora,ouvi:
- Então tá bom, tchau! - com um sorriso desprezivo.
Me virei e fui andando para frente, meio que numa coordenada ação que eu não gostaria de estar fazendo,porém, tinha de fazer. Andei pela madrugada e assim voltei pra casa...
Quando cheguei em casa, me deitei na cama e do mesmo jeito que estava adormeci, com a luz acesa(ainda me trouxe um prejuízo de conta de luz). Quando despertei no dia seguinte, desconfortável por estar com tais roupas, levantei e fui lavar o rosto. Eu via um rosto feio, horrível, incapaz de querer conseguir algo na vida.Eu não tinha nada.
Sabe...queria que soubesse que não tenho nada e que nada vale sem você. Sei que devo me contentar com esse nada que tenho e com esse nada que tens de mim. Mas uma coisa eu sempre soube: nada vai mudar, principalmente meu amor por você.
E essa é minha filosofia de vida. Minha ideologia de nada.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Voltar "A Mar" aos meus confins do além mar


Foram séculos de sofrimento engarrafados em poucas unidades de anos, mas havia adormecido aquela necessidade compulsiva em te amar. O que era rotina agora era ocasional e bem selecionado,que por sinal, muito bem sofrido quando da seleção eu optava por tentar amar-te novamente. Nesses séculos,digo, anos, você viveu como um alguém genérico, pois mesmo sabendo que era especial,distinta e renomada,ignorou o fato desta pobre existência e viveu a vida plenamente bem do jeito ao qual eu gostaria de ter vivido.Mas que você não deixou. A partir deste seu deletério direto ao coração, resolvi tentar voltar -"a mar"- aos confins do além mar,meu verdadeiro lar que tinha deixado a saudade dos tempos que eu era feliz e principalmente independente de alguém.
Pois é...foram séculos, digo, anos navegando sozinho pelos mares brabos e agitados,onde eu estava só, somente com minha sã consciência. Foi difícil , passei por muitas dificuldades em minha embarcação, situações de risco que tive de depender dos meus instintos para me manter pelo menos vivo diante de um vasto e incansável mar,que deixei salgado por minhas lágrimas.
Foram tão estranhos esses anos, digo, séculos(?) que eu passara em "piloto automático", sem saber para qual direção eu ia. O tempo foi severo e ironicamente tão sereno em sua efemeridade que mal tinha noção do passar do tempo. Como eu te encontrei novamente?Enquanto eu navagava eu tinha certeza de que não tinha seguido as perfeitas e traiçoeiras estrelas!(atrativas,mas que refletiam você). Era tão difícil e improvável que isso acontecesse, quase me convenço que vivi enganosamente andando em círculos por entre esse período que tentei fugir. Será que você alterou os pólos magnéticos de forma que minha bússola desnorteada apontava novamente para você? Definitivamente foi crueldade.
Pois bem, como homem que viveu aos anos impiedosos e que sobrevivera, hei de enfrentar e explorar suas águas que, se assim tiver de morrer, morrerei como um bravo e destemido herói que visava ser feliz aos braços de alguém...