segunda-feira, 26 de abril de 2010

Amor circense


Por que admirar alguém que não te admira?
É provavelmente a dúvida que perdura sobre a humanidade. Fazer das tripas coração tentando impressionar quem não pode te ver, ou pior, quem não faz questão em ver.
- Te dou a oportunidade de ser a atração principal do meu espetáculo, e você me retribui assim?! Rindo da minha cara? - o palhaço deixou aos risos a minha barraca de onde fazia o escritório.
- Será que sou invisível? Ou beiro ao desprezível por não chamar-lhe a atenção? - pensei intrigada.
Os meus tantos elogios a ele sobre sua magnífica apresentação naquela noite não haviam funcionado, e acabei sendo falha na tentativa de conquistá-lo.Será que ele ria da minha cara por eu amá-lo?
Afinal, por que fui amar um palhaço?
O pior é que eu não tinha como ou por que demitir aquele palhaço: ele era fabuloso,fantástico,majestoso e o centro total das atenções.
- Por que ele era assim tão perfeito? - eu resmungava pelos cantos,contestando o meu amor por um palhaço circense.
E sinceramente? Naquela hora, mesmo sabendo que é maldade desejar o mal de outras pessoas, eu gostaria que ele tivesse o status da repugnante mulher barbada, a qual todo mundo só pagava por matar a curiosidade de ver uma pessoa tão incomum. Fiquei tão indignada que imaginei as bolas de fogo dos meus cuspidores atingindo-o em cheio.
Bobagem, era só mais uma contradição de meus sentimentos: eu amava aquele artista e não desejava nada de ruim para ele,muito pelo contrário,desejava o melhor possível.
O palhaço me impressionava com o vigor e orgulho que tinha de sua vida, ao contrário de mim, que às vezes me pegava numa depressão tão profunda por exercer uma profissão tão simples(dona de circo). Ele era satisfeito pelo que fazia, não exigia nada mais de sua vida, somente gostava e precisava ser uma atração. Sobretudo, somente eu sabia da vida que atormentava-lhe por trás daquelas sorridentes e falsas maquiagens.Eu não o reconheceria pelo seu passado de maus exemplos, e também aposto que não deixaria ninguém admirado. Mas ele me fez admirá-lo.EU o amava,e não tinha de negar.
Parece palhaçada... mas às vezes suponho que literalmente eu esteja mais para palhaço do que ele.
A resposta é não! Antes que perguntem se outrora virarei ou não um palhaço. Garanto que minha personalidade já está mais equilibrada do que os pés do equilibrista sob a corda bamba.
Finalizo então por hoje este espetáculo circense, rodeado de horrores e amores,agradecendo ao público pelo meu sustento,porém,que nem sabe da minha existência. Mas acabo agradecendo principalmente por ter este palhaço na minha vida. Motivo a qual estampo um sorriso permanente somente em saber da sua existência ao meu lado,e que mesmo rindo da minha cara diariamente, não demonstrando com clareza sequer algum sentimento de desprezo, me dá esperanças de um futuro melhor nesse circo de qual sobrevivo. Sempre atuando como atração principal do meu espetáculo: tanto no circo quanto no amor.

- Nosso amor... - sussurrei só.

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