segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Cacos do intacto


- Realmente me preocupo de estar tão preocupado.

Guardo uma dor dentro de mim. Uma dor que eu não dou ou empresto para ninguém.
Quem sabe seja egoísmo ou apenas por ser exclusiva e unicamente minha.
Remédios ,pfff... remédios geralmente atendem às necessidades dos doentes, mas não no meu caso.Sou portador de uma doença crônica: a tristeza. Seu único remédio é a própria causa, pois quando se está triste percebe que até tenta pensar em outra coisa além da causa, mas vai fazer questão em pensá-la. É a única razão que lhe parece importante ou favorável às suas preocupações.Você sente por aquilo, quer tristeza benéfica, quer maléfica.
Em contrapartida à quase unanimidade humana, instituo alguns pontos divergentes de minha sentimentalidade: a tristeza por uma razão que não existe ou ainda não existe.Basicamente uma incerteza do que está por vir simplesmente por não ter arriscado. Sofro por uma situação hipotética que possui desfecho dicótomo.Uma dor que se prolonga inerente ao tempo que alimenta esta esquizofrenia.
Representando minha realidade numa situação ilustrativa,é como pensar em um homem excessivamente vaidoso que se olha através de um espelho estilhaçado: terá a imagem deturpada.O estranho é pensar que face ao espelho estilhaçado, existe um mundo intacto que não sofrera o que a semblante da suposta realidade reflete.Em miúdos,o homem ressentiu por uma imagem equívoca de sua existência. Deve-se levar em conta que o contexto do exemplo se atribui justamente pelo espelho ter de refletir obrigatoriamente o corpo que buscou a reflexão.

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Abstrato

A paciência é a única virtude remanescente, que sustém "os cacos" da vida que ainda é intacta, mas que transmite frangalhos trazidos pelo fracasso da felicidade.
Quero saber se realmente vou sofrer ou ser feliz pela utopia da sua decisão.Uma utopia que pra mim, além de possível, significa a dignidade da minha vivência.
Tudo que desejo é parar de viver a mercê da ventura deste coração enclausurado:"viver" pelo que tiver de ser,"morrer" pelo que tiver de sofrer.
Mas por favor, parar de cobiçar pela quimera do "sonhar".

Ansioso por ti, Sereníssima.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Incontáveis meios do fracasso


Feliz aniversário

Chegada a véspera do dia em que comemoro o meu nascimento. Desde pequenino eu passava as madrugadas do aniversário em claro,somente planejando os diversos jeitos de comemorar o presente que receberia.
Todo ano eu perguntava ao meu pai se ganharia um tão cobiçado autorama no meu próximo aniversário. Obtinha a mesma resposta :
- Se for um menino comportado, papai pensa em comprá-lo para você. - O pai,com um nó na garganta, contornava a situação.
É claro que eu sabia que dependia da situação financeira do meu pai e o papo de comportamento era apenas uma distração para não dar muito trabalho durante o ano.
Na manhã de aniversário, despertei sozinho devido à ânsia que me pressionava. Fui direto ao quarto dos meus pais que há pouco tinham despertado também.Entrei com uma feição extremamente alegre,afobado e louco pelo presente.
- Feliz aniversário filhote! Papai está tão orgulhoso de você! Está virando um homem que daqui a pouco até ultrapassa a minha altura.
A minha mãe, na fila para me encher de beijos, segurava um embrulho atrás das costas. E logo veio o desânimo: eu já sabia pelo tamanho do pacote que não seria o meu desejado autorama,mas continuei estampando um sorriso no rosto.
- Meu homenzinho lindo da mamãe! Vem aqui me dar um abraço. - fiquei amassado de tantos abraços.
- Esse é o presente do papai e da mamãe.Abre agora! – papai disse.
No momento,suscitei a possibilidade de que talvez tivesse de forçar uma surpresa,então continuei sorrindo.
- Demais! É o Capitão Caveira dos guerreiros do universo!
Eu ganhara um boneco de um personagem que nem era meu preferido do grupo dos guerreiros, mas não queria decepcioná-los quanto ao presente.Dei um beijo nos pais,agradeci e segui para o meu quarto.
Logo entrando no quarto fechei a porta e joguei o boneco no baú de brinquedos.Não foi o brinquedo que satisfaria o meu anseio de brincar.Voltei à cama,fechei os olhos voluntariamente pedindo para dormir e sonhar com aquele autorama que me levava ao delírio.

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A dimensão do fracasso

Abri os olhos com lentidão. A suavidade daquela amanhã de novembro não me inspirava a despertar completamente. Estava frio, o abochornado do quarto estava tão convidativo que eu relutava em sequer abrir os olhos.
Desacordado, provavelmente eu ainda não havia percebido que era o meu aniversário.Diferente das manhãs de infância, eu não desejava mais um autorama para brincar. Tudo o que eu queria era uma mulher em especial, dividindo a mesma cama. Se a tivesse faria questão em acordar todo dia mais cedo somente para observá-la dormindo, zelando a virgindade do seu sono.
Seguindo o bocejo,espreguicei logo me dando conta de que estava sozinho.Tomei banho e um rápido café da manhã, continuando pela correnteza da vida.

Herdei da vida o único presente que empecilha a minha felicidade:não a tristeza, mas sim o tempo que me impede de morrer logo, em paz.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Amor antagônico


Curiosidade indevida

Típico começo de semana no sol das 16h, completo tédio. A monotonia se adota como minha única conduta e a poeira domina meu habitat. Toda a vida é resumida numa única palavra: ócio.
Logo quando percebia meus pensamentos à você, deturpava-os rapidamente. Talvez fosse apenas condolência à tristeza que perdura no meu âmago. Tentava evitá-la,porém... :
- Qual seria minha atual importância em sua vida? - procurava a resposta.
A vida ao seu redor te deixaria satisfeita? Ou estaria numa vida miserável e sem propósito como a minha? Infelizmente eu almejava a nossa reciprocidade, lamento mas não consigo mentir.

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Totalmente entregue

Gostaria tanto de respirar o ar que você respira. Estar ao seu lado apenas para observar a plenitude da beleza que carrega. Creio que desperdiço amor,radiante, jogado de lado. Abraçá-la uma única vez me deixaria saciado.
Utopia seria se desejasse que seguíssemos os mesmos passos. Mas UM abraço? Não arrancaria pedaço.
A saudade quando não alcança seu esplendor,tortura.


Por favor, chega de saudade.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sonho de um pesadelo


Havia dias que não experimentava o amargo doce do desgosto. Estava muito estranho,pois era cedo demais para comemorar vitória. Posso dizer que vivia um momento despreocupado da vida, e os problemas não mais se sobressaíam .Só "tocava" a vida adiante, escondendo toda a sujeira por debaixo do tapete. Eu ignorava tudo o que me assolava.
Setembro! Mês de luto.Período em que meu cérebro sabia que viria a passar por alguns momentos impactantes. Provavelmente o meu estado de transe era um recurso instintivo do corpo.
- 07:15. - despertei inconformado.
Relutei na minha cama desde as 07:00, provando todas as possíveis posições de decúbito mas não venci a insônia. Sentia uma terrível torcicolo que me obrigara a tomar alguns analgésicos de uma só vez. Caminhei até o banheiro e a luz infelizmente estava queimada. Não era problema,afinal, aquela penumbra só iria provocar a minha sonolência.
Tirei a "água dos joelhos", lavei as mãos e logo cuspia aquela saliva espessa de recém-acordado. Escovei os meus dentes me preparando para lavar o rosto com água gelada. Fechei os olhos e molhei o rosto algumas séries de vezes.
Foi estranho pois permaneci de olhos fechados por quase um minuto, quando decidi abrir os olhos vi um vulto atravessando logo atrás de mim.
- Não, não pode ser. - monologuei assustado.
Por precaução lavei meu rosto mais uma vez, abri os olhos e tudo tinha voltado ao normal.
Enxuguei as mãos,o rosto, e segui caminho em direção ao quarto.
Logo na entrada do quarto me senti atraído por alguma entidade:
- POF! - foi o estrondo da porta que fechou e trancou-se sozinha.
Alguém vindo detrás da porta, atrás de mim, já massageava o meu pescoço dolorido. Eu não podia vê-la mas sentia o agasalho do toque, excitando todo o prazer existente no meu interior. De algum jeito me deitou de bruços na cama, posicionando o rosto contra o travesseiro e continuou massageando.
Em seguida foi cobrindo lentamente o meu corpo com o cobertor e ainda de bruços fui vendo a pouca claridade do quarto se tornar um completo escuro. Literalmente fui "forrado" pela coberta.
No ato o desespero claustrofóbico bateu. Resolvi erguer as cobertas e logo o susto:
- NÃO CONSIGO SAIR DA COBERTA, ESTOU PRESO DENTRO DA MINHA COBERTA!ALGUÉM ME AJUDE,POR FAVOR! - gritei com desespero.
- TEM ALGUÉM TENTANDO ME MATAR, ME AJUDE, POR FAVOR!
De novo ninguém escutava os meus pedidos de socorro.
Nesse momento eu já suava frio,então resolvi me concentrar para evitar um maior desespero. Estiquei meus braços para frente e vi um túnel apertado no horizonte.O único jeito de seguir era começar me arrastando.Aos trancos e barrancos fui rastejando feito um verme pelas galerias que não esperava existir internamente da minha cama.Estava quase sufocado quando enxerguei uma luz no fim do túnel. Acelerei meus movimentos, porém, parecia que eu nunca chegaria ao meu destino. Andava e não saía do mesmo lugar, como numa esteira rumo ao infinito.
- *Casp casp casp casp* - acordei ofegante e suado.
- Foi um pesadelo! - respirei fundo e tornei a enfiar a cabeça abaixo do travesseiro, tentando voltar a adormecer.

O pesadelo, na verdade, era de acordar e saber que eu ainda conseguia enxergar uma luz no fim do túnel. Para variar, sonhando com um pesadelo já vivido.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ela é bela mas pouco singela


Quando te avistei,distante, apreciei o contorno gritante e belo do seu corpo. Linda silhueta que me fez suspirar ao mesmo tempo em que me vi abraçado pela loucura. Era um forte abraço. Tão poderoso que entornava a minha personalidade para fora, sentindo escorrer pelos arredores.
Levou-me ao delírio quando imaginei carícias no seu corpo estupidamente formoso.Durante o suave tato de minhas mãos, arrepiou-me numa reação a qual deveria ser contrária. Seu cheiro era a melhor fragrância. Seus olhos mais brilhantes e profundos que este próprio globo que me mantém como "ser". És você,plena em tudo que é.
Abuse da superioridade que tem. Você pode,deve e é.Também sabe. Bela mas pouco singela.
Conduza este homem às estrelas.Se não assim, hei de ser sempre um sentinela.
Nada como a sinceridade em admitir que se é dominado pela saudade.


ps.: você sabe o que anda me fazendo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Escarrando um vício


Ultimamente ando paciente pelo fim de todos os dias.Uma espera tão inquieta que já nem mais as unhas existiam para roê-las. O meu relógio era prova do vício compulsivo por olhar a hora, sempre querendo acelerar a execução natural do tempo. Como se literalmente fosse adiantar alguma coisa.
Sempre o mais do mesmo. A rotina sequer rendia bons prognósticos do futuro. Estava acostumando com a vida de tristezas, já nem me esforçava para desapegar da infelicidade.Eu adoecera de ócio,tanto deste que nem forças havia de lutar.
Quando me alimentava,"presenciava" o trajeto quase indigesto da comida por todas entranhas do meu ser. Descia-me às tripas como um rochedo sem gosto,dolorindo por dentro.Comer restara como única atividade natural de sobrevida, pois fora isso só existiam os movimentos involuntários do corpo. Maldito coração.
A vida se consumia, autofágica. Uma vez que não havia como resistir sem boas vivências,muito menos sem gozos.Iria se deteriorando.
Recentemente descoberta no cigarro, a tranquilidade em relaxar durante o desespero foi uma bênção. Não sabia também se fumava só para esquecer de todos os problemas. Talvez fizesse por ciência de estar morrendo aos poucos.Sei que fumar,pra mim, não tenta somente parecer algo elegante e trágico. Outrossim, nunca fui homem de bom mocismos. Fumar apenas fornecia o devido calor à minha alma fria. Cada vez que inspirasse a fumaça de tanto desvalor, lapsos de memórias viriam à tona, lembrando os momentos perfeitos ao seu lado.Poucos momentos.
Foi seu presente de grande utilidade: um vício.

Acendi um cigarro,como se fosse o último.Sempre o último: (risos)
- Cigarro...cigarro, hum. - comecei a cochichar repetidamente a palavra cigarro, olhando fixo e atento ao mesmo.
- Escarro, escarro, escarro... - tornei boquiaberto.
Essa percepção incomum da palavra de certa forma tinha descartado o desvairado vício no cigarro.A fumaça era só um desabafo do corpo. O vício era você, não existia dúvida.
Vício bem ou malquisto? Resta ainda saber.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Incompreendendo uma perseguição


Todos os dias quando dou conta da plena lucidez, pergunto-me o que encobre todos os vestígios da triste verdade. Cá estou eu numa tormenta de interrogações.
Não sei o porquê do rumo que sigo. Vivo de pressentimentos. Sensações que sequer dão noção ou situação do que se está por vir.Se não servem mais para distinção das coisas, tampouco enxergá-las, ter-se-á visto que os olhos já não têm sua devida utilidade.
Qualquer produto sonoro agora é uníssono, assimilados à delicadeza de sua voz.
Tudo é unânime.Tudo é você.
Caminho amedrontado pelas ruas,imaginando até que a própria sombra possa vir a ser algum tipo de esconderijo para observações.A cada esquina me certifico de olhar para trás,garantindo não estar sob algum olhado.Eu ficara paranóico: era extrema obsessão ou realmente estaria sendo perseguido?
Só poderia ser fruto da minha paranóia platônica e de todo aquele sentimento exacerbado.
A verdade é que estava cansado do anonimato das coisas, pois parecia que tudo havia desaparecido quando você reaparecera. Todos os meus valores, afetos e virtudes pessoais haviam sumido. Estava vivendo uma vida monocrômica,absolutamente inexpressiva.
Amar-te exigia minha vida em troca. O vampirismo dessa exigência me oprimia.
Nunca procurei reciprocidade sentimental,e sim, apenas sua ciência de todos os males que causa. Se faço ou não questão de ainda viver essa vida, é problema meu.
Mas devo admitir que ainda incompreendo:
- Perseguir ou ser perseguido? Eis a questão.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Intrínseco lavado


- Corri corri corri e enfim cheguei a um beco sem saída.O que faria diante desta impassível situação? - pensou o homem.
- Assumir problemas não me convém. Quero mais é morar nesse beco, pegar minhas trouxas e viver com meus poucos deleites.
Deitado no canto do muro já decadente,havia cansado de assistir a proliferação dos ratos. Resolveu analisar as trouxas que dispunha:
- Como são úteis essas minhas trouxas ...tenho do que me esquentar, afofar, proteger. - delirei. Certamente era o necessário para sobreviver durante o período rigoroso.
- Mas não será eterno.Tudo bem, que dure o que tiver de durar. - conformado.
- Pode parecer egoísmo de minha parte evitar de me desfazer do que já não agrada.
- Não, não é egoísmo. - lutei contra a própria consciência.
No momento, senti que havia sido sucumbido pela fragilidade malévola do meu ser.Apenas deixei ser levado pela maré de tristeza,somente me conformando para evitar que acarretasse em piores desastres.Covarde.
Pois bem, ao menos cessavam-se as auto-conversas.Predominava o silêncio de novo.
O homem fechara os olhos, vasculhando suas trouxas para encontrar sua tola bebida bem guardada. Abriu com tanto desespero e ansiedade,que derramou um pouco da sagrada em cima dos pertences. Tomou em poucos goles, demonstrando a voracidade de um animal selvagem. Na sequência,sem rumo e sem pudor,levantou e aproximou-se do muro, deitando no meio-fio que lhe estava próximo.Encostou a cabeça,e fê-lo o mais confortável travesseiro.
Esparramado como se em coma, começou a chorar e pedir perdão pelos pecados: por carregar as ingênuas trouxas consigo e abusar do vício alcoólico para esquecer das dificuldades. Era homicídio seguido em suicídio.

- Perdoe-me Deus. - suplicou.
Naquele exato instante, um leve sereno caiu ,como se fossem singelas lágrimas do Deus que tantos desabafos e preces ouvira.O homem instintivamente começou a beber da água que caía. No decorrer das horas, o piedoso tempo lavava o homem de dentro a fora.Estava no julgamento dos próprios crimes.
Quando o sereno parou, já saciado de beber, levantou-se. Levantou cambaleando,com aparência maltrapilha, tropeçando nos obstáculos invisíveis com a roupa toda ensopada daquelas "lágrimas".
O sereno parecia ter levado uma boa parte da embriaguez e sujeira da alma.
Não sabia porque só chovera naquele beco sem saída que se encontrava.Talvez apenas o acaso, porém, ele continuou em frente.
Bocejou e desembaçou os olhos recém lúcidos,de repente,se viu em frente a uma frase,pintada no muro que parecia quase desmoronar:
"Percebera que tola não era a bebida do homem, mas sim o homem da bebida.Não carrega as trouxas, e sim as trouxas carregam-no.Fostes o próprio beco sem saída."
O homem acelerou os passos e deixou o beco sem olhar para trás, feliz por ainda possuir suas preciosas e coitadas trouxas,sobretudo, por tê-las se bem quisesse, e amá-las se bem sentisse.




Nunca nego as saudades do sereno que senti por tão pouco tempo.

sábado, 10 de julho de 2010

Mentiras do Eu-lírico


Diante do mal aprisionado dentro do peito, percebo os apertos agora de tão concentrados, que chegam a respingar as chagas do sofrimento em forma de lágrimas.
A felicidade,atípica, reaparecia sempre na forma de calafrios. Era clandestina quando conseguia penetrar no âmago da minha sã consciência. Consciência do meu estado tanto fisionômico quanto psicológico.
Vivo de mentiras, vida que se contada categoricamente pelo meio literário, soa como a melhor vida desta Terra.
Nesse emaranhado de letras, digo que sou vítima do acaso, e que a desgraça provém da sua indiferença. Sou vítima do destino,um pobre coitado escolhido entre bilhões de pessoas para sofrer.
A vida atravessa rápida: pisque suas pálpebras,e num instante transformo esta montanha de caracteres numa mentira, alegando que a minha frieza é instransponível. Claro que mentira.Já que clara, experimente apagar e acender a luz rapidamente. Antes sequer que sua pupila dilatada volte ao normal, crio um meio de justificar o seu tormento constritor que circunda a minh'alma.
Oh Deus onipotente, por que criastes uma vida tão complexa? Complexidade tão avançada que ainda não sabemos nem explicar por que é rápida aos felizardos, e retrógrada aos entristecidos.
O tempo evidentemente passa diferente para nós.
Prevejo o seu envelhecimento precoce devido à sua vida bem vivida. Já a minha,por sua vez, permanece em andamento vagaroso, explicitadas ao longo desses maçantes relatos pacientes que supõe a sua vida sem mim. Resulta-se em imaginá-la como uma linda e perfeita penumbra enquadrada num material translúcido, que não me deixa vê-la com nitidez. São os ossos do ofício por viver infeliz. Ter uma vida dessincronizada à sua.
Justiça seja feita... a quem posso delatar todos esses crimes?
No mundo fictício o qual escrevo, esqueci de determinar quem é a autoridade.
- Sou eu! - disse absoluto.
- Mas se é o meu Eu-lírico quem escreve,por que tenho capacidade de ainda duvidar de toda essa absoluta certeza? - o Eu-lírico surpreendeu-se com a pergunta vinda do verdadeiro ser.
Entrei em colapso por não conseguir respondê-lo.
Não responder meu sentimental era paradoxal.Como é possível desconhecer uma resposta que ninguém pode ter por mim?
Chega de literatura por hoje! Porei fim a todo este descaso com a felicidade.Assim pulo das letras aos seus verdadeiros significados,esperançoso que algum dia eles realmente alcancem seu coração,transmitindo todo o amor que transpiro.
Enquanto o anseio por sua presença não se realiza, vivo com a minha longínqua e permanente companheira, a senhorita bem amada, Senhora Solidão.
Ok, a parte de amá-la foi mentira do Eu-lírico.

sábado, 26 de junho de 2010

Alvos lírios dedicados à saudade


Entrei pelo portão dos fundos,caminhando sorrateiramente acompanhado de uma fina camada de neblina, abaixo de um leve sereno. A vegetação estava mórbida, e os ventos assobiavam tão forte que me davam a impressão de não estar sozinho. Estava no campo imaginário onde encontrei os seus últimos vestígios: A solidão.
Longas buscas, mas enfim havia colhido o último lírio de toda a primavera: era branco.
Sinceramente? Eu sempre achei que o seu favoritismo branco do lírio fosse somente por você enxergar o nosso amor de forma incolor.Mas tudo bem,talvez fosse uma teoria muito maquiavélica de minha parte.
A saudade era tanta que me doía ter que suportar a sua ausência. Em homenagem à lacuna que me deixou nesta cadavérica vida, decidi enobrecer os bons momentos a qual havíamos passado juntos. Conduzi o lírio branco próximo ao meu rosto, para que sentisse o último frescor de suas pétalas.
Apreciar o alvo lírio me fazia bem, pois mesmo branco, lembrava-me da "vida dos bons momentos" que tive de forma mais cintilante.
Permaneci paralisado naquele eterno momento. As lágrimas se estagnaram no meu rosto, e a saudade em suspirar o próprio aroma do seu corpo vinha à tona.
Recitei:

- Respirar sob pressão dos teus abraços,
estender-se no calor veludo dos teus seios.
Obedeço e satisfaço sua sempre quista vontade,
honrando o vívido passado, sem desdenho.

Joguei o último lírio,especialmente branco, sobre o túmulo.
- Eu amo você - disse aos sussurros.
Por garantia, me certifiquei:
- A saudade me segue há tanto tempo, que finalmente vou tirar longas férias com ela - ainda cochichando.
Sem rumo, voltei continuando a me guiar pela marcação de migalhas que derrubei pelo caminho...migalhas que herdei do seu legado.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Consciência


É Natural do ser humano. Espécie típica de procurar saídas mais fáceis,escapando pela possibilidade mais inconsequente. Pernas pra que te quero: correr do que te afronta e evitar o que tem capacidade de afetar diretamente.
Tentar ser quem você não é ou parecer menos atingido pela tristeza que te arrasta pelos cantos. Fingir a felicidade que não tem, somente para demonstrar convicção moral e emocional diante ao próximo, que parece-lhe melhor do que você.
A ausência do seu grande amor lhe tornou um grande mentiroso. As feridas que não cicatrizavam continuam piorando: a doença era a própria vida.
Devido a inatividade as moscas já pousavam sobre o corpo, imóvel durante horas a fio. Tive medo até em arriscar um palpite sugerindo que estivesse morto,porém, tenho certeza que nem mesmo as larvas gostariam de saciar a fome com a podridão da sua carne fresca.
Você estava morto e necessitava o status da mais vívida das vidas.
Esse teatro todo certamente enganava qualquer um, até mesmo a Deus. Enganou seus amigos,seu pais,conhecidos...mas a única pessoa a qual todo esse repertório queria convencer,não convenceu. Você falhou e já não consegue mais enganar a si próprio.Já ouvi dizer que a única coisa que ninguém NUNCA vai conseguir enganar é a própria consciência. Dona da verdade e absoluta nos atos alheios, a consciência é a mais forte entre todas as formas de vida,dada a cada um de nós para o uso que "bem entender".
A sua única chance já se desperdiçou: a ignorância. Ela sim por sua limitação decorrente da tamanha ingenuidade do ser, talvez aliviasse a consciência alegando não ser culpado.
O problema é a ciência. Você sabia de tudo e não conseguia mais desatar o nó que você mesmo dera.
Seu peso na consciência é tão grande que andar ou pensar se tornou impossível.
Mas a locomotiva da consciência não parou. A todo vapor ela vinha na minha direção.
Suicídio? Longe disso. Embora eu soubesse que deitar na ferrovia gelada à espera de ser atropelado, atropelado eu seria por minha própria consciência e acabaria desistindo da ideia de querer morrer.
A conclusão é que a dor da vida é inevitável.Para o fraco que aqui sofre, só lhe resta seguir em frente,infelizmente consciente do que tem e vem pela frente.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Correspondência à SCHURT


Aonde está o salva-vidas nesse exato momento? Quando se mais precisa dele, ele nunca aparece. Pode parecer carência demasiada querer ser resgatado por alguém, mas não é. Eu realmente preciso de uma salvação, seja de um bombeiro, mulher, psicólogo, psiquiatra...eu só preciso que me escutem, e que compreendam a minha dor.
Logicamente, entre esses eu escolhi um psicólogo,que logo na primeira consulta percebeu que meus problemas não eram normais, e que provavelmente estaria com algum tipo de depressão ou transtorno. Sem hesitação,já me encaminhou a um psiquiatra, que por seu conhecimento médico mais aprofundado, tinha como receitar remédios que me acalmassem.
- Qual é o problema,senhor? - perguntou o psiquiatra.
- Tudo é o problema. - disse afobado.
- É opcional a sua resposta, pois sei que pode parecer intromissão da minha parte por tentar compreender os seus problemas pessoais,mas...o que foi que causou "tudo" isso? - preparado para anotações na sua prancheta.
- Uma rejeição. - respondi com a voz trêmula.
- O senhor por acaso já ouviu falar de depressão,e sabe o que ela significa psiquiatricamente falando? - indagou.
- Olha, eu conheço muita gente com depres...
- Não. A Depressão é uma doença afetiva ou do humor, não é simplesmente estar na "fossa" ou com "baixo astral" passageiro. Também não é sinal de fraqueza,falta de pensamentos positivos ou uma condição que possa ser superada apenas pela força de vontade ou com esforço. - me interrompeu com o sermão cientificamente correto.
- Então seria uma doença? - perguntei curioso.
- Sim, a depressão é uma doença "do organismo como um todo", que compromete o físico, o humor e, em consequência, o pensamento. A Depressão altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a realidade, entende das coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o prazer com a vida. Ela afeta a forma como a pessoa se alimenta e dorme, como se sente em relação a si próprio e como pensa sobre as coisas.
Não tive o que responder.O doutor me pediu para que voltasse uma semana após essa consulta. Fui sobrevivendo ao longo dos dias para que se passasse uma semana.Era aparente a ausência dos sonos,com olheiras e com a viúva já aos olhos.
Chegando à ala psiquiátrica do hospital, entrei no consultório e o médico disse que tinha achado o meu problema:
- Procurei em livros e listas das síndromes mais incomuns existentes.O seu caso é a síndrome de SCHURT, ou Síndrome de Carência Horária por União Repentinamente Terminada. Não é uma síndrome tão rara, mas também não é tão comum. As vítimas desse transtorno físico-emocional geralmente se dão pela obsessão por algum relacionamento com alguém mais velho, causado pelo insucesso do mesmo. Tendo em vista as anotações do psicólogo que te indicou para este consultório,os sintomas e causas batem perfeitamente.
- Existe cura? - perguntei assustado pela sabedoria do doutor.
- Com certeza,a medicina propõe a cura para este problema.O senhor terá que tomar anti-depressivos e se necessário alguns calmantes com efeitos colaterais fortes, até incentivadores à sonolência. - respondeu o doutor.
- E também é válido lembrar que a cura também depende da sua superação pessoal. Os remédios são apenas ajudantes no tratamento.
Depois da despedida ao grande descobridor (ou apenas o informante) do meu problema, eu deixei o consultório , comprei os meus remédios segundo a prescrição médica e fui para casa.
Deitei relaxadamente no sofá e fui tomar o primeiro comprimido, mas antes, falei comigo como se a SCHURT fosse uma pessoa morando dentro, com uma personalidade totalmente diferente:
- Boa noite,meu triste amigo. - olhei para o comprimido na palma da minha mão esquerda, e corajosamente joguei direto à garganta,logo encerrando aquele tempo longo que nunca dava trégua para ser feliz.









*o termo SCHURT é fictício.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Memorial incinerado


Em meio à grandes amontoados de poeira, tento contar quantas velharias eu infelizmente não pude me desfazer.Perdi o controle da coisa a partir que aquela gigantesca coleção foi ganhando mais apetrechos pendentes a armazenar. Memórias eram o que não faltavam,ruins ou boas, eu arranjava um espaço naquele meu acervo, ou simplesmente jogava em direção às tralhas.
Qualquer um que visse minha coleção, acharia um monte de "lixo",e ainda por cima suporiam que eu não fosse higiênico. Confesso que nem mesmo liguei para os hábitos corretos, e assim se acumulou toda aquele material.
Uma vez, um amigo dissera:
- Se desfaça dessas coisas, não te fazem nada bem.
Eu aceitei o conselho pois sabia que ele estava correto,no entanto, não coloquei em prática.
Caminhando pela casa, sentei na poltrona na qual passávamos horas sentados(com você ao meu colo):conversando, rindo, discutindo,brincando,namorando...enfim,horas e horas lembrando.
Mas a impressão era de que,aos poucos, estaria me assemelhando a todo aquele velho resíduo que guardava.
Todo o seu legado foi apenas um monte de memórias,as quais me faziam delirar pelo passado que tive. Eu habitava um museu. Um museu de saudades que me torturava com aquelas lembranças que jamais voltariam,e que literalmente faziam com que meu coração transparecesse como uma velha relíquia.
Chorando ininterruptamente, imaginei com qual homem você estava sendo feliz. Tentava compreender o que ele provavelmente tinha de melhor do que eu. Tão doloroso era pensar que eu ainda tinha esperanças do seu retorno.
De modo involuntário,ainda chorando, fui despejando toda aquelas coisas no meu quintal pois reduziria tudo aquilo à cinzas.Toquei fogo.
Assisti toda a fumaça das minhas memórias voando em direção ao céu,deixando a saudade se desvanecer pelos ventos que ali sopravam.

domingo, 23 de maio de 2010

Patriotismo


Sempre quando a vejo de passagem,
me deparo batendo a honrada continência.
Por trás desse respeitoso homem à excelentíssima,
existe alguém que nem proclamou a própria independência.

Sob o rufar dos animados tambores que a ti ecoam
o coração bate novamente àquele sentimento célebre.
Me engasgo com tanto amor ufânico enclausurado.
Assim me retiro em tristes prantos,
ao som da marcha fúnebre,despedaçado.

Ó Pátria amada, idolotrada, por favor salve.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Mau "ressignificado" do óbito


Assistiu a fumaça subir vagarosamente e quando finalmente já perto do filtro,jogou-o no chão e pisoteou como se odiasse. A contradição era justamente essa: você o amava. Era tanto amor àquele mau elemento, que chegava a me dar inveja. Eu daria milhares de cigarros por você, e você sequer daria um cigarro por mim.
O seu ceticismo quanto à felicidade da vida me irritava. Você era jovem,estava no ápice da vida e mesmo assim não pensava nas consequências para o futuro. Não imagina quantos homens,amigos e inimigos você faria triste se já não pertencesse entre nós? A sua inconsequência era consequência de não encarar a vida como ela é ou poderia ser. A rendição à ela foi o seu erro. E negar a ajuda para sair desta vida foi o arremate.

- Tire esse sorriso da boca. - supus conversas entre nós.
Você acendeu outro cigarro, e ainda tragava indiferentemente.
Eu tinha de admitir, as suas palavras eram eloqüentes suficientes para demonstrar convicção sobre as suas opções de vida, mas no fundo até você sabia que fora uma pessoa sem garra para concretizar o que tanto desejava na vida. A sua auto-suficiência se contentava com os míseros poucos que lhe restavam.
Infelizmente, a morte era a sua meta. E você sequer pensou no que poderia fazer para compensá-la durante sua vasta vida e assim preencher as lacunas pendentes.

- Realmente achou que a morte apenas fosse uma inevitável,trágica e dolorosa peça do destino,não é? - Indaguei numa retórica.

Você logo procurou o desfecho para uma vida que você nem mesmo teve.
Claro que doeria sim àqueles que te amam por perdê-la,porém, a você que não fazia questão em vivê-la,passaria discretamente.
O seu remorso após a morte não seria fruto do cigarro,por exemplo,mas sim da insignificância que você teve em vida.
E eu como fico afinal? Ahhh meu bem, continue sorridente e fumando o seu cigarro, enquanto eu permaneço caminhando em direção ao abismo...quem sabe atrás de você.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O que as câmeras não vêem, o meu coração ainda sente


- Obrigado pela compra senhor, faça bom uso! - disse a sorridente atendente da loja de usados.
Eu havia comprado uma antiga Polaroid numa loja de velhas quinquilharias. Mesmo sabendo da dificuldade em encontrar as recargas para essa câmera atualmente, sabia que faria bom uso da carga que ainda viera junto com a compra.
A minha felicidade era que agora eu poderia realizar o meu fetiche: fotografá-la.
Tinha a estranha capacidade de te enxergar em qualquer lugar e momento, e logo que saí da loja já te avistei.
Observava-lhe pelos cantos, atrás de árvores, multidões, e por sorte você nem notava. As pessoas sentiam medo da minha feição maníaca em admirar aquela mulher. A impressão é que eu fora tachado como louco por quem me via atrás dos objetos,tentando disfarçar a minha presença àquela pessoa.Além do mais eu nem sabia se o restante realmente via a mulher que eu fotografava.
Guardava as fotos recém-tiradas no bolso interno da minha jaqueta e deixava secando sem sequer olhar de antemão pois queria aquela surpresa ao vê-las em casa,na hora de montar o álbum .
Você demonstrava tanta tranquilidade andando em vagarosos passos. Chegava a pensar que você não fazia nada da vida a não ser andar sem rumo e sutilmente fumar os seus cigarros. Aliás, eu tirava belas fotos de você fumando, tão linda mesmo tragando um veneno desses,inteiramente surreal.
Com certeza eu já estava passando algumas poucas horas te fotografando pelas belas paisagens.
Você deixava qualquer paisagem bonita somente com a sua presença.Não importava se eu tirasse uma foto sua em frente ao esgoto, pois ficaria maravilhosa com sua fotogenia espontânea.
Num momento de descuido,prestando atenção em algo aleatório,repentinamente você fugiu da minha vista.
Fiquei desesperado e não sabia mais onde você estaria.Procurei por todos os lados mas continuei falhando em te encontrar.Enfim depois de alguns minutos,desisti. Tudo o que me restava era voltar pra casa.Pelo menos ainda estava ansioso para ver as fotos.
Mas quando cheguei em casa tomei um susto ao ver o resultado: você não apareceu em nenhuma das fotos.Exclusivamente você,porque os fundos estavam em nítida impressão.Espantado, até chequei a lente da câmera afim de reparar algum defeito mas mesmo assim não conseguia me ludibriar de que havia algum problema com a câmera.
Naquele momento de extrema decepção, questionei a sua existência:
- Seria você uma esquizofrenia,miragem ou apenas fruto da minha imaginação?
- Por que só os meus olhos vêem a sua beleza? Você realmente existe?
Resolvi queimar as fotos e joguei a câmera fora,afinal não me serviam mais para nada. O jeito era contemplar sua beleza às escondidas e com meus próprios olhos... que pelo visto,eram olhos únicos nesse mundo.


Ps.: desde então nunca mais te vi,e sinto tanta saudade...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A robótica da vida humana


Imagine a dor que um destino cruel pode causar. Tanto amor acumulado há tanto tempo no peito que o coração começa a ficar sem espaço para bater. Tamanho amor que se morresse um dia com tudo isso dentro, seria injusto terminar em restos pútridos enfim reduzidos à carcaça.
Invejo a estrutura de um robô,eterno e programado a desempenhar alguma tarefa com sucesso, sem margens de erro.
As vezes penso se não sou um robô aprisionado em um corpo humano,afinal, minha vida sempre soou ser programada somente ao amor.
- Não,definitivamente não.Robôs não amam. - pensei melhor.
Mas como assim a perfeição poder falhar?
É, meu coração é a prova viva que até os sentimentos mais perfeitos têm a chance de não obter o merecido triunfo...
Com certeza a volubilidade sentimental humana é notavelmente mais complexa perante à exatidão dos cálculos matemáticos que definem um sistema robótico. Mas infelizmente, o sofrimento é o preço que se paga por essa complexidade a mais. Temos a vulnerabilidade a algo imaterial(sentimentos).
Pobres humanos ainda não conseguem esquecer as memórias por pura e espontânea vontade.Remoem esse passado(perfeito e fugaz) a ponto de machucar o próprio ego. Robôs ao menos têm a probabilidade de terem os arquivos corrompidos,claro que não proposital, mas se assim perdê-los, são capazes de inibir a saudade das memórias de virem à tona.
- Ah, robôs... - com os olhos brilhando.
Mas robôs não amam. Suas vidas não necessitam sentido.Eu necessito um sentido.Necessito você.
Sem mais delongas: se eu não tiver tal êxito nesta minha programação humana,por favor, desligue os aparelhos.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Arranha-céu


É tão bonita a vista aqui de cima. Ver toda a cidade minimizada a ponto de compará-la como uma inanimada maquete.
De onde estou, sou incapaz de enxergar toda a sujeira e imperfeição deste lugar, sendo ainda privilegiado com a impossibilidade de ouvir e compreender todas as as idiotices do mundo.
- Ahhhh. - aos suspiros.
Incrível é imaginar a vida como um grande formigueiro, e supor a insignificância das reles "vidinhas" as quais vivem na metrópole lá embaixo. E Observando atentamente, noto a sistemática dessa rotineira vida, sempre constante.
Visualizo qualquer imagem nas nuvens, mesmo sabendo que isso não passa de uma visão utópica da minha parte. Este é só o MEU ponto de vista.
Daqui as pessoas são todas iguais, mesmo que únicas por suas nuances individuais, passam despercebidas e indiferentes...

Me apeguei a este mundo superior, e nunca mais gostaria de descer. Afinal, só aqui posso admirar toda a real beleza dessa vida,sem ao menos precisar te ver.

domingo, 2 de maio de 2010

A vida de drogas


Como foi o homem inventar um meio de interromper os sonhos mais perfeitos?
Que ousadia era essa em despertar e viver uma realiadade ao invés do perfeito irreal?
Faz parte despertar e ter que lutar por essa responsabilidade cruel chamada vida?
A partir daquele dia o abrir dos olhos foi inevitável.Estava numa espécie de transição, do sonâmbulo ao já acordado, em animação suspensa. Lembro que até os meus sonhos já estavam alertas sobre quem era sua verdadeira pessoa,pois fora deles eu já havia sofrido na pele,com traumas marcados por cicatrizes.
Em sonho era como se você fosse uma rainha e eu um mero subordinado no qual eu fazia questão de te obedecer e idolatrar acima de qualquer condição,e o pior, sem nenhuma recompensa.Afinal,a recompensa que eu queria era de tamanha ambição, que tinha chances praticamente nulas. Incrivelmente eu adorava esse tipo de sonho, pois de algum de jeito eu conseguia satisfazer os seus desejos,e agradar-lhe de alguma forma, mesmo que indiferente eu fosse. Ainda culpava o amor por essa "cegueira em te ver" como uma pessoa extraordinária... (risos)
Voltando ao mundo,sonambulei até o banheiro,enxaguei os meus olhos e a transição estava completa, agora lúcido e ciente do que eu realmente vivia. Um susto!Foi o pior dos pesadelos: eu não acordei ao seu lado,e já acostumado, nem tinha os seus sinais de vida.
Juro que já tinha apelado a deus, e questionava-o sobre o porquê daquele imposto do qual eu não necessitava "pagar". Acordar para a vida havia criado um dos meus piores medos: voltar a dormir e ter que acordar novamente,perdendo tudo o que eu já tinha conquistado de mais insignificante nos sonhos. Agora tudo o que eu queria era permanecer despertado na minha realidade,e que se tivesse de sofrer, sofreria e enfim com o tempo me acostumaria(ou não).
Minha situação era lamentável,a cara estava amassada de tanto dormir, as cortinas impediam há dias que o sol entrasse na minha casa, e que assim mostrasse seu brilhante horizonte. O ambiente o qual eu me encontrava era literalmente tenebroso.
Triste era saber que naquela condição, ninguém sequer aparecia na minha vida para me ajudar. O pior de tudo é que ainda me atrevia a te esperar que viesse me salvar, como se inversamente eu fosse o rei , e que necessitasse das ajudas do subordinado,mas sabia que era só mais um sonho impossível.
Ainda na luta de permanecer acordado,eu tomava café em disparada, e já estava pronto para o que tivesse que vir,ou melhor, não vir nessa infeliz realidade. Era horrível sentir meu coração batendo por alguém que nem queria saber da minha vida ou existência. Tudo o que eu gostaria é que compreendesse todo o sentimento estagnado nesse peito, mesmo que tivesse que ignorá-los.E essa sempre foi a razão dos meus sonos: ter uma chance pelo menos na irrealidade, de fazer com que soubesse tudo o que eu sinto.
Será que era por isso que eu sempre estive viciado nos meus sonhos? Estaria compulsivamente precisando dormir num sono eterno novamente? Claro que não.
A triste verdade deste dependente, era que sonhar sempre foi um efeito desta droga de vida,a qual me fazia esperar, e sonhar algo que eu nunca tivera de verdade... você.
A vida é uma droga e apenas uma desculpa, pois mesmo acordado ou dormindo, definitivamente nunca terei você.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Relatos impessoais - Pt.II


A gula de quem não come, mas ama

É sempre excessiva,
por culpa dos sentimentos.
Até quando pensar em parar,
dará conta que não está satisfeito.

A palavra "vício", coitada,
é pessimamente atribuída,
porém,se mal alimentado,
será mesmo um vício sem saída.

Vomitar as palavras
vindas da boca do estômago,
se atingem qualquer pessoa
por que só não atingem o seu âmago?

Pode exagerar à vontade,
ultrapassar até a morbidez da obesidade.
Se abusar desse doce te deixa aliviado,
ostente em admitir ser um glutão apaixonado.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Relatos impessoais - Pt.I


Pronome invisível

Ouvir o que fala,
sentir o que cheire,
tocar a presença,
sequer que tateie.

Seguir cada passo,
a qualquer passeio.
Revirar sentimentos
e prever os anseios.

Inspirar a fumaça,
esconder sombra adentro.
Sussurrar consequências,
justificar um tormento.

Amar é o doce,
possuir o amargo.
A consciência é ciente,
existe só por desencargo.




ps.: pelo menos agora é visível.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Amor circense


Por que admirar alguém que não te admira?
É provavelmente a dúvida que perdura sobre a humanidade. Fazer das tripas coração tentando impressionar quem não pode te ver, ou pior, quem não faz questão em ver.
- Te dou a oportunidade de ser a atração principal do meu espetáculo, e você me retribui assim?! Rindo da minha cara? - o palhaço deixou aos risos a minha barraca de onde fazia o escritório.
- Será que sou invisível? Ou beiro ao desprezível por não chamar-lhe a atenção? - pensei intrigada.
Os meus tantos elogios a ele sobre sua magnífica apresentação naquela noite não haviam funcionado, e acabei sendo falha na tentativa de conquistá-lo.Será que ele ria da minha cara por eu amá-lo?
Afinal, por que fui amar um palhaço?
O pior é que eu não tinha como ou por que demitir aquele palhaço: ele era fabuloso,fantástico,majestoso e o centro total das atenções.
- Por que ele era assim tão perfeito? - eu resmungava pelos cantos,contestando o meu amor por um palhaço circense.
E sinceramente? Naquela hora, mesmo sabendo que é maldade desejar o mal de outras pessoas, eu gostaria que ele tivesse o status da repugnante mulher barbada, a qual todo mundo só pagava por matar a curiosidade de ver uma pessoa tão incomum. Fiquei tão indignada que imaginei as bolas de fogo dos meus cuspidores atingindo-o em cheio.
Bobagem, era só mais uma contradição de meus sentimentos: eu amava aquele artista e não desejava nada de ruim para ele,muito pelo contrário,desejava o melhor possível.
O palhaço me impressionava com o vigor e orgulho que tinha de sua vida, ao contrário de mim, que às vezes me pegava numa depressão tão profunda por exercer uma profissão tão simples(dona de circo). Ele era satisfeito pelo que fazia, não exigia nada mais de sua vida, somente gostava e precisava ser uma atração. Sobretudo, somente eu sabia da vida que atormentava-lhe por trás daquelas sorridentes e falsas maquiagens.Eu não o reconheceria pelo seu passado de maus exemplos, e também aposto que não deixaria ninguém admirado. Mas ele me fez admirá-lo.EU o amava,e não tinha de negar.
Parece palhaçada... mas às vezes suponho que literalmente eu esteja mais para palhaço do que ele.
A resposta é não! Antes que perguntem se outrora virarei ou não um palhaço. Garanto que minha personalidade já está mais equilibrada do que os pés do equilibrista sob a corda bamba.
Finalizo então por hoje este espetáculo circense, rodeado de horrores e amores,agradecendo ao público pelo meu sustento,porém,que nem sabe da minha existência. Mas acabo agradecendo principalmente por ter este palhaço na minha vida. Motivo a qual estampo um sorriso permanente somente em saber da sua existência ao meu lado,e que mesmo rindo da minha cara diariamente, não demonstrando com clareza sequer algum sentimento de desprezo, me dá esperanças de um futuro melhor nesse circo de qual sobrevivo. Sempre atuando como atração principal do meu espetáculo: tanto no circo quanto no amor.

- Nosso amor... - sussurrei só.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Ideologia de nada


Eu estava procurando-lhe afim de te observar a noite toda mas estava bem no seu ponto cego, num canto que nem mesmo deus poderia ver ou ajudar. Foi então que fui até o balcão e pedi um copo de cachaça. Eu sabia que você estava naquele canto, tinha certeza. Ao meio de tanta gente e de uma música alta, conseguia fazer com que todos congelassem e prestasse atenção somente à você, viva e dançando somente para mim.
Você era tão linda e estava tão feliz que a emoção vibrava no meu peito.Sentindo uma forte adrenalina, eu virava os goles da cachaça abruptamente e cada vez mais me sentia encorajado a falar com você. O meu lado efusivo (consequência alcoólica) eu ainda não conhecia, mas percebi que involuntariamente estava chegando perto de você. A minha adrenalina era tão alta que nem preocupado estava em me disfarçar à multidão.De repente
- Oi, o que faz aqui? - indagou ela.
Naquele momento já havia tido uma epifania amorosa por ver e ouví-la.
- Não sei. - respondi mais perdido que cego em tiroteio.
A conversa começou a se soltar mas ainda soava como uma conversa artificial,improdutiva e obrigatória, como se só falasse comigo para não ignorar totalmente a minha existência.
Ora ou outra interrompidos por algum conhecido dela, a conversa recomeçava da estaca zero e ela demonstrava constante desinteresse. Até a hora que ela inventou algumas desculpas e se retirou com os amigos. Foi o golpe final.Ali estava eu, derrotado pelo amor, isolado em reclusão sem direito a condicional mesmo entre centenas de pessoas. Não aguentava assistir a felicidade das pessoas (inclusive a dela) dançando, sorrindo e aproveitando a noite, e somente eu, sozinho, com um copo vazio entre as mãos,triste e dependente de alguém.
Eu não tinha você, como é que poderia ser feliz?
Paguei a conta no ato, peguei minhas coisas e fui embora.Já ao lado de fora te encontro novamente: ploft!
Toda a esperança desse coração nobre e grande ascendeu novamente:
- Já vai? - disse a garota.
Foi eterno enquanto não respondia, pensando que eu não fazia diferença alguma na noite dela. Ela acendeu um cigarro que odiava-a por fumar(mas que mesmo odiando o cheiro, adorava quando vinha daquela boca maravilhosa).
- Huuum, acho que sim, eu não estou na minha melhor condição.
E quando achei que ouviria a maior das redenções pedindo para que eu não fosse embora,ouvi:
- Então tá bom, tchau! - com um sorriso desprezivo.
Me virei e fui andando para frente, meio que numa coordenada ação que eu não gostaria de estar fazendo,porém, tinha de fazer. Andei pela madrugada e assim voltei pra casa...
Quando cheguei em casa, me deitei na cama e do mesmo jeito que estava adormeci, com a luz acesa(ainda me trouxe um prejuízo de conta de luz). Quando despertei no dia seguinte, desconfortável por estar com tais roupas, levantei e fui lavar o rosto. Eu via um rosto feio, horrível, incapaz de querer conseguir algo na vida.Eu não tinha nada.
Sabe...queria que soubesse que não tenho nada e que nada vale sem você. Sei que devo me contentar com esse nada que tenho e com esse nada que tens de mim. Mas uma coisa eu sempre soube: nada vai mudar, principalmente meu amor por você.
E essa é minha filosofia de vida. Minha ideologia de nada.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Voltar "A Mar" aos meus confins do além mar


Foram séculos de sofrimento engarrafados em poucas unidades de anos, mas havia adormecido aquela necessidade compulsiva em te amar. O que era rotina agora era ocasional e bem selecionado,que por sinal, muito bem sofrido quando da seleção eu optava por tentar amar-te novamente. Nesses séculos,digo, anos, você viveu como um alguém genérico, pois mesmo sabendo que era especial,distinta e renomada,ignorou o fato desta pobre existência e viveu a vida plenamente bem do jeito ao qual eu gostaria de ter vivido.Mas que você não deixou. A partir deste seu deletério direto ao coração, resolvi tentar voltar -"a mar"- aos confins do além mar,meu verdadeiro lar que tinha deixado a saudade dos tempos que eu era feliz e principalmente independente de alguém.
Pois é...foram séculos, digo, anos navegando sozinho pelos mares brabos e agitados,onde eu estava só, somente com minha sã consciência. Foi difícil , passei por muitas dificuldades em minha embarcação, situações de risco que tive de depender dos meus instintos para me manter pelo menos vivo diante de um vasto e incansável mar,que deixei salgado por minhas lágrimas.
Foram tão estranhos esses anos, digo, séculos(?) que eu passara em "piloto automático", sem saber para qual direção eu ia. O tempo foi severo e ironicamente tão sereno em sua efemeridade que mal tinha noção do passar do tempo. Como eu te encontrei novamente?Enquanto eu navagava eu tinha certeza de que não tinha seguido as perfeitas e traiçoeiras estrelas!(atrativas,mas que refletiam você). Era tão difícil e improvável que isso acontecesse, quase me convenço que vivi enganosamente andando em círculos por entre esse período que tentei fugir. Será que você alterou os pólos magnéticos de forma que minha bússola desnorteada apontava novamente para você? Definitivamente foi crueldade.
Pois bem, como homem que viveu aos anos impiedosos e que sobrevivera, hei de enfrentar e explorar suas águas que, se assim tiver de morrer, morrerei como um bravo e destemido herói que visava ser feliz aos braços de alguém...