sábado, 26 de junho de 2010

Alvos lírios dedicados à saudade


Entrei pelo portão dos fundos,caminhando sorrateiramente acompanhado de uma fina camada de neblina, abaixo de um leve sereno. A vegetação estava mórbida, e os ventos assobiavam tão forte que me davam a impressão de não estar sozinho. Estava no campo imaginário onde encontrei os seus últimos vestígios: A solidão.
Longas buscas, mas enfim havia colhido o último lírio de toda a primavera: era branco.
Sinceramente? Eu sempre achei que o seu favoritismo branco do lírio fosse somente por você enxergar o nosso amor de forma incolor.Mas tudo bem,talvez fosse uma teoria muito maquiavélica de minha parte.
A saudade era tanta que me doía ter que suportar a sua ausência. Em homenagem à lacuna que me deixou nesta cadavérica vida, decidi enobrecer os bons momentos a qual havíamos passado juntos. Conduzi o lírio branco próximo ao meu rosto, para que sentisse o último frescor de suas pétalas.
Apreciar o alvo lírio me fazia bem, pois mesmo branco, lembrava-me da "vida dos bons momentos" que tive de forma mais cintilante.
Permaneci paralisado naquele eterno momento. As lágrimas se estagnaram no meu rosto, e a saudade em suspirar o próprio aroma do seu corpo vinha à tona.
Recitei:

- Respirar sob pressão dos teus abraços,
estender-se no calor veludo dos teus seios.
Obedeço e satisfaço sua sempre quista vontade,
honrando o vívido passado, sem desdenho.

Joguei o último lírio,especialmente branco, sobre o túmulo.
- Eu amo você - disse aos sussurros.
Por garantia, me certifiquei:
- A saudade me segue há tanto tempo, que finalmente vou tirar longas férias com ela - ainda cochichando.
Sem rumo, voltei continuando a me guiar pela marcação de migalhas que derrubei pelo caminho...migalhas que herdei do seu legado.

Um comentário:

  1. "Eu sempre achei que o seu favoritismo branco do lírio fosse somente por você enxergar o nosso amor de forma incolor."

    que pretensão...

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