sexta-feira, 4 de junho de 2010

Correspondência à SCHURT


Aonde está o salva-vidas nesse exato momento? Quando se mais precisa dele, ele nunca aparece. Pode parecer carência demasiada querer ser resgatado por alguém, mas não é. Eu realmente preciso de uma salvação, seja de um bombeiro, mulher, psicólogo, psiquiatra...eu só preciso que me escutem, e que compreendam a minha dor.
Logicamente, entre esses eu escolhi um psicólogo,que logo na primeira consulta percebeu que meus problemas não eram normais, e que provavelmente estaria com algum tipo de depressão ou transtorno. Sem hesitação,já me encaminhou a um psiquiatra, que por seu conhecimento médico mais aprofundado, tinha como receitar remédios que me acalmassem.
- Qual é o problema,senhor? - perguntou o psiquiatra.
- Tudo é o problema. - disse afobado.
- É opcional a sua resposta, pois sei que pode parecer intromissão da minha parte por tentar compreender os seus problemas pessoais,mas...o que foi que causou "tudo" isso? - preparado para anotações na sua prancheta.
- Uma rejeição. - respondi com a voz trêmula.
- O senhor por acaso já ouviu falar de depressão,e sabe o que ela significa psiquiatricamente falando? - indagou.
- Olha, eu conheço muita gente com depres...
- Não. A Depressão é uma doença afetiva ou do humor, não é simplesmente estar na "fossa" ou com "baixo astral" passageiro. Também não é sinal de fraqueza,falta de pensamentos positivos ou uma condição que possa ser superada apenas pela força de vontade ou com esforço. - me interrompeu com o sermão cientificamente correto.
- Então seria uma doença? - perguntei curioso.
- Sim, a depressão é uma doença "do organismo como um todo", que compromete o físico, o humor e, em consequência, o pensamento. A Depressão altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a realidade, entende das coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o prazer com a vida. Ela afeta a forma como a pessoa se alimenta e dorme, como se sente em relação a si próprio e como pensa sobre as coisas.
Não tive o que responder.O doutor me pediu para que voltasse uma semana após essa consulta. Fui sobrevivendo ao longo dos dias para que se passasse uma semana.Era aparente a ausência dos sonos,com olheiras e com a viúva já aos olhos.
Chegando à ala psiquiátrica do hospital, entrei no consultório e o médico disse que tinha achado o meu problema:
- Procurei em livros e listas das síndromes mais incomuns existentes.O seu caso é a síndrome de SCHURT, ou Síndrome de Carência Horária por União Repentinamente Terminada. Não é uma síndrome tão rara, mas também não é tão comum. As vítimas desse transtorno físico-emocional geralmente se dão pela obsessão por algum relacionamento com alguém mais velho, causado pelo insucesso do mesmo. Tendo em vista as anotações do psicólogo que te indicou para este consultório,os sintomas e causas batem perfeitamente.
- Existe cura? - perguntei assustado pela sabedoria do doutor.
- Com certeza,a medicina propõe a cura para este problema.O senhor terá que tomar anti-depressivos e se necessário alguns calmantes com efeitos colaterais fortes, até incentivadores à sonolência. - respondeu o doutor.
- E também é válido lembrar que a cura também depende da sua superação pessoal. Os remédios são apenas ajudantes no tratamento.
Depois da despedida ao grande descobridor (ou apenas o informante) do meu problema, eu deixei o consultório , comprei os meus remédios segundo a prescrição médica e fui para casa.
Deitei relaxadamente no sofá e fui tomar o primeiro comprimido, mas antes, falei comigo como se a SCHURT fosse uma pessoa morando dentro, com uma personalidade totalmente diferente:
- Boa noite,meu triste amigo. - olhei para o comprimido na palma da minha mão esquerda, e corajosamente joguei direto à garganta,logo encerrando aquele tempo longo que nunca dava trégua para ser feliz.









*o termo SCHURT é fictício.

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